Embora, para a monografia, não se exija a
pesquisa de uma tese de mestrado, ambas seguem a mesma estrutura. Monografia é
um trabalho científico, não se confunde com um resumo ou anotações de sala de
aula. Não há certezas, mas dúvidas. Parte-se de um ponto (a introdução) em
direção a outro (a conclusão), em sequência lógica, dinâmica e dialógica.
À parte o resumo, substract,
agradecimentos e sumário, o termo de conclusão de curso é constituído de
introdução, desenvolvimento e conclusão.
Poderia dizer:
"Simples assim". Mas, analisando melhor, a coisa não é tão simples.
Tive sorte em
meu primeiro trabalho, porque escolhi um excelente orientador, exigente
até demais (li, reli o escrito vezes sem conta). Houve fila para
escolhê-lo, mas o elegi na metade do penúltimo ano (cada orientador tem um
limite de alunos).
Para contar com sua colaboração, também colaborei: durante o quinto ano,
cheguei mais cedo, um dia por semana, e assisti uma aula dele, ministrada para...
o segundo ano. Anotava, participava. Encerrada a aula, o acompanhava até a sala dos professores e, depois, à sala de orientação. Foi assim durante um ano inteiro, sempre com uma aula além das regulamentares, cumulada com aquelas que tinha no último ano. Apenas não fazia as provas, se caíssem elas nesse dia. Os outros orientandos ficaram à deriva, porque a orientação era dada no horário das aulas. É questão de estratégia e oportunidade: uma aluna do quinto ano assistir as aulas do segundo, por vontade própria, participar, anotar etc. sempre gerará mais prestígio a um professor.
o segundo ano. Anotava, participava. Encerrada a aula, o acompanhava até a sala dos professores e, depois, à sala de orientação. Foi assim durante um ano inteiro, sempre com uma aula além das regulamentares, cumulada com aquelas que tinha no último ano. Apenas não fazia as provas, se caíssem elas nesse dia. Os outros orientandos ficaram à deriva, porque a orientação era dada no horário das aulas. É questão de estratégia e oportunidade: uma aluna do quinto ano assistir as aulas do segundo, por vontade própria, participar, anotar etc. sempre gerará mais prestígio a um professor.
Você vê pela minha experiência que, se não tivesse me dedicado ao máximo,
não teria o máximo dele. Trocávamos e-mails, ele sempre sintético: faça isto ou
aquilo. E eu revia todo o trabalho, mais uma vez. Como, por exemplo, jamais
utilizar a primeira pessoa. Sempre trabalhar com o impessoal. Ele,
monossilábico, eu batalhando para apresentar outra vez o trabalho e ele apontar
mais algum deslize. Não foi fácil, mas valeu a pena.
Você escolheu um tema com o qual tem afinidade? Não importa sobre o
que escreva, pesquise muito primeiro, leia a respeito tudo o que encontrar e
veja se se interessa.
O ideal seria desenvolver um tema ao lado do professor, fechando (de
assunto a tema). Veja que um professor brilhante pode não ser o melhor
orientador. Isso é ilusão.
Uma das minhas filhas adiou a elaboração da monografia. Tinha muito medo e
queria fazer bonito. Escreveu sobre um tema que a interessava e era pouco
pesquisado e, ao final, se saiu muito bem.
Se você escrever direitinho (e tecnicamente), pesquisar, não plagiar,
passa, sempre. Nota alta é outra coisa. Muito alta, outra, ainda. E isso tem um
preço: tempo e dedicação. Muito tempo.
As faculdades não exigem uma defesa de tese (eu pesquisei o meu trabalho
durante um ano e meio e o revisei cada semana, durante um ano, por isso foi tão
bom). Isso é reservado para o mestrado e o doutorado. O que exigem de nós
é uma experiência com um trabalho científico.
Na terceira pós graduação, não vou me desgastar tanto. Vou escrever
direitinho, pesquisar, não plagiar, seguir a cartilha. Sem neuras.
TEMA
Escolha o tema. "Tema", por definição,
é diferente de "assunto".
Suponhamos que você queira falar sobre a
Lei Maria da Penha. Este é um assunto, que é abrangente.
Para a monografia, deve ser delimitado o
tema, no tempo e no espaço. Então estará definida a problemática, a
importância da pesquisa, a ser destacada na introdução.
Evite o título "Lei Maria da
Penha", por exemplo. Se não conseguir delimitar suficientemente e o tema
abrangente, você terá que saber tudo e não terá como fugir de alguma pergunta,
na apresentação. É melhor: "Considerações sobre a violência contra a
mulher e a Lei Maria da Penha". Não é o ideal para uma monografia, mas
para título de redação. Mas, desta forma, o título não o compromete tanto e pode
escapar ao que não é o mais relevante. Quanto a isso, tanto o orientador como a
internet podem ajudar.
Para mim, o texto ideal sempre soa algo como "O efeito do cataclisma do outono de 1970 sobre as margaridas do campo na cidade de Mirassol". Percebe como não podem ser cobrados conhecimentos sobre rosas ou orquídeas, sobre outra região ou outro evento? Tudo o que for perguntado e respondido além do tema é um plus, tudo o que for perguntado e não respondido, um nada.
Se o tema abordar uma lei, necessariamente
devem ser mencionadas no texto as exposições de motivos que fundamentaram seu
surgimento. O que motivou os legisladores a elaborar a lei.
SUMÁRIO
Definido o tema, elabore o sumário.
Sempre.
Ele servirá de guia para as pesquisas e
será modificado durante o trabalho. No caso da Lei Maria da Penha, por exemplo,
destaque: 1. Quem foi Maria da
Penha. 2. Como eram tratados os crimes domésticos, antes da publicação da lei?
3. O que mudou? 4. Como ocorreu a mudança? 5. Direito Comparado (não precisa
coletar legislação do mundo inteiro, mas uma meia dúzia de exemplos) etc etc.
Veja que cada capítulo pode ser escrito
separadamente. Depois serão eles ordenados, cortados ou mantidos.
Existe um longo trabalho de revisão,
inclusive para que toda a pesquisa caiba no limite de folhas exigido.
Tomando como exemplo o tema "Tutela
antecipada em face da Fazenda Pública. Possibilidades e vedações": na hora
da montagem, defina o que é tutela antecipada, requisitos, natureza. Se abordar
aspectos históricos, virão antes da definição. Depois, as características das
ações contra a Fazenda (o caso da revisão obrigatória, prazos etc.). Por fim, o
capítulo sobre a tutela ligada às ações contra a Fazenda. As idéias devem
seguir um raciocínio lógico.
NORMAS DA ABNT
Como a monografia é um trabalho
científico, deve seguir regras preestabelecidas. Consiga as regras, o limite de
folhas (máximo e mínimo), tamanho da fonte, regras de diagramação etc. Existe
uma forma convencionada para as citações (como citar o nome do autor, da obra,
ano etc.) Quando escrever, pois, deve já elaborar o trabalho seguindo as
normas.
PESQUISA - BIBLIOGRAFIA
Elaborado o sumário, o próximo passo é
pesquisar. Independentemente do tema, a pesquisa é necessária. Pesquise muito,
em livros, artigos e monografias.
Uma dica importante: cada trabalho que
pesquisar será referencial de outras obras. Um único livro indicará vários
outros, que devem ser também pesquisados, e muitos destes referenciais se
repetirão em outras obras analisadas. Daí temos os clássicos, aqueles que
embasam o entendimento sobre o assunto, e as obras que inovam, porque repensam
ideias preestabelecidas.
A Lei Maria da Penha aniversariou. Uma boa
oportunidade para assistir palestras que correram por conta do evento. Pode ser
interessante colher a posição atual da doutrina e dos tribunais.
Existem, também, as delegacias da mulher.
Que tal visitar algumas e entrevistar o delegado/delegada? Daria maior conteúdo
à monografia e impressionaria os examinadores. Já pensou que legal?
QUEM ESCREVE?
Quando escrever, seja impessoal, sempre.
Sua opinião só deve ser (e deve ser) colocada na conclusão, escrita nas mesmas
proporções (tamanho do texto) que a introdução.
E a mono deve ser narrada, também, de
forma impessoal (não existe nós, eu, mas, por exemplo, "O trabalho
desenvolve-se de forma a dar contraste à narrativa, que por sua vez é elementar").
Percebe que é uma narrativa científica - não existe pessoalidade?
COMO ESCREVER?
Como adiantei, a monografia é um trabalho
de pesquisa. Portanto, não parte de certezas, mas de dúvidas, que serão
esclarecidas ao longo do trabalho. Não pode, portanto, ser abordada apenas
uma posição, mas posições: "Segundo fulano é assim", "conforme
Beltrano é assado". Não é bem-vinda a adjetivação excessiva nem o excesso
de advérbios.
Durante a elaboração do texto, se bem que
desejável o bom português e a correção gramatical, não é ela o mais importante,
mas a clareza das idéias - sempre poderá rever o texto, mas dificilmente
incrementar um trabalho fraco.
Cada capítulo, subcapítulo e a monografia,
como um todo, é composta de introdução, desenvolvimento e conclusão.
Fuja das longas frases e parágrafos, de
termos rebuscados e de palavras inúteis.
Se vai falar sobre as fontes heterônomas,
por exemplo, deve falar, também, das fontes autônomas.
Sempre que utilizar um termo técnico, deve
esclarecer seu alcance e sentido. Defini-lo. A melhor monografia é aquela que
tanto o iletrado como o douto conseguem compreender.
PLÁGIO
Não copie o que pesquisar. Isso é plágio,
facilmente identificável pelos professores nos sites de busca. da internet.
Também é plágio o "copiar com outras palavras". Uma curiosidade:
o famoso quadro O Grito do Ipiranga,
elaborado por Pedro Américo, é suspeito de plágio da obra de Jean-Louis Ernest
Meissonier, Napoleão em Friedland.
Seja leal.
CITAÇÕES
A monografia não é uma colagem de textos.
A maior parte do que escrever estará apoiada pelos doutrinadores. O que deve,
obrigatoriamente, ser citado? O doutrinador que tiver opinião contrária à
maioria e aquele que melhor definir o tema. Se o que você falar é chuva no
molhado (assunto batido) não precisa citar ninguém.
REVISÃO
No começo, é escrever. Depois virão as
revisões. Revisões e revisões, que é o trabalho mais chato.
Quando o texto estiver pronto, deve exceder o limite em algumas páginas e
todo o excesso será retirado na análise e correção.
A cada leitura o texto melhorará, com o corte de vírgulas e palavras
desnecessárias, a correção dos erros de concordância. Serão necessárias muitas
leituras para que a obra se torne definitiva.
Certos vícios, como a repetição do termo "que" também
comprometem o texto. Deve-se evitar o gerúndio.
Não se preocupe tanto com correções, enquanto escreve. Escreva. Se
encontrar erros, corrija. Se nos atermos aos erros, antes, o trabalho não
avançará e você não fará outra coisa senão pensar na estética, sem cuidar do
conteúdo.
O trabalho é lido no todo e corrigido, uma vez. Parece que ficou bom. Mas
não: em outra leitura novos erros surgem. E em outra. Cada palavra é lida
separadamente e em seu contexto. Apesar de trabalhoso, é gratificante.
Se tiver um amigo bem disposto, peça a ele para ler e apontar os erros
que encontrar. Pergunte se ficou claro o que você escreveu. O mais bacana de
outra pessoa ler é que ela encontrará com maior facilidade erros que nossos
olhos, já treinados em percorrer a escrita, não encontra.
Chegará uma hora em que, de tanto ler e
corrigir a mesma coisa (jamais deixar linhas órfãs ou viúvas, sempre começar um
capítulo na em folha limpa, a narração impessoal, limite de folhas...) que você
estará cansado do tema. A monografia estará, então, pronta; o filho, parido.
E mesmo assim, como disse Monteiro Lobato:
os "sapos", no prelo, saltarão. É inevitável.
Respeite o direito autoral.
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Maria da Glória Perez Delgado Sanches
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